A Liturgia da Palavra: O Senhor fala ao seu povo

Mai 12, 2021
admin

Este artigo é o segundo de uma série para ajudar os fiéis a experimentar a Missa de uma forma mais profunda do que nunca. Leia as outras partes nos links abaixo, e subscreva a nossa e-newsletter para ter a certeza de que não perde o resto!

Parte 1: Introdução
Parte 3: Liturgia da Palavra
Parte 4: Liturgia da Eucaristia

Os bancos das nossas igrejas estão a começar a encher-se mais uma vez. Depois de uma sombria Quaresma sem Missas, as portas das igrejas estão a abrir-se de novo para que os fiéis venham participar na Sagrada Liturgia.

Prior da pandemia da COVID-19 e do encerramento das nossas paróquias, a Missa provavelmente fazia parte da nossa rotina semanal. Todos os fins de semana, nos reuníamos aos pés do altar como um só corpo em Cristo, oferecendo nossas orações e recebendo a plenitude de Cristo na Eucaristia. Esta rotina de assistir à Missa cada semana é uma boa e bela parte da fé cristã – “a fonte e o cume”, por assim dizer.

No entanto, o perigo das rotinas é que elas podem começar a perder o seu poder de permanência e significado ao longo do tempo. Quantos de nós vão à Missa a cada semana simplesmente porque temos que ir e não porque realmente queremos vivê-la em sua plenitude? Será que perdemos o contacto com a riqueza da liturgia e com a forma como cada pedaço dela se destina a aproximar-nos cada vez mais d’Aquele que deu a sua vida apaixonada por nós? Se você respondeu sim a qualquer uma destas perguntas, então a reabertura das missas apresenta uma oportunidade para entrar nela mais profundamente do que nunca.

O Missal Romano divide a missa em quatro partes principais. Vejamos alguns dos ricos significados e simbolismos dos Ritos Introdutórios e como a nossa participação na Missa começa antes mesmo de tocar o sino.

Molho de água santa

Desde o momento em que pomos os pés dentro das nossas paróquias, Cristo convida-nos a uma comunhão profunda e íntima com Ele na Missa. Ao entrarmos no santuário da nossa paróquia, é instintivo mergulharmos os dedos na pia batismal e abençoarmo-nos com o Sinal da Cruz. Já parou para considerar por que fazemos isto?

A resposta óbvia é que serve como lembrança do nosso próprio baptismo, o que é verdade. Como a Escritura nos mostra uma e outra vez, a água é um símbolo importante na vida da Igreja. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “O simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo no Batismo, pois depois da invocação do Espírito Santo se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento: assim como a gestação do nosso primeiro nascimento ocorreu na água, assim a água do Batismo significa verdadeiramente que nosso nascimento na vida divina nos é dado no Espírito Santo. Como “por um só Espírito fomos todos batizados”, assim somos também “feitos para beber de um só Espírito”. Assim, o Espírito é também pessoalmente a água viva que brota de Cristo crucificado como sua fonte e que brota em nós para a vida eterna” (Catecismo 694).

Mas há um significado ainda mais profundo para a bênção com a Água Benta que é encontrada quando se olha para trás na Igreja primitiva. Antes de entrar num espaço sagrado, era prática comum os adoradores se “limparem” com água. Enquanto isso servia a um propósito funcional de remover a sujeira fisicamente do corpo, também simbolizava a remoção da dor espiritual que se acumula na alma. Como escreveu São Clemente de Alexandria: “O melhor banho, então, é o que esfrega a poluição da alma, e é espiritual”. Do qual a profecia fala expressamente: ‘O Senhor lavará a sujeira dos filhos e filhas de Israel, e purificará o sangue do meio deles’.Com esta purificação ritual, estamos agora prontos para entrar na festa sagrada que nos espera.

Genuflexão + Silêncio

Como nos dirigimos para o nosso lugar no banco, a igreja está em silêncio. Antes de nos sentarmos, novamente, é instintivo genuflectir, ou ajoelhar-se, em direção ao tabernáculo, num gesto de reverência a Cristo. Historicamente, o ato de genuflexão foi reservado aos governantes e reis como sinal de submissão e respeito. Da mesma forma, nós católicos genuflectimos perante o verdadeiro “rei dos reis” quando entramos na igreja para honrar aquele que está presente no Santíssimo Sacramento.

O silêncio da Igreja antes do início da Missa deve ser uma oportunidade para nós simplesmente habitarmos com o Senhor. No silêncio, podemos escutar com mais atenção a voz do Senhor e o que Ele pode estar nos pedindo para oferecer no sacrifício da Missa. É uma oportunidade para acalmar os nossos corações, levar cativos quaisquer pensamentos errantes, ainda as nossas preocupações e ansiedades, e simplesmente existir na presença do Santíssimo.

Processao de entrada

A campainha toca. Todos de pé. A música começa e uma procissão entra na igreja, significando o início da Missa. Numa missa dominical típica, a procissão tende a seguir esta ordem geral: Altares que seguram a Cruz Processional (Crucifixo), acólitos que seguram velas, o diácono que segura o Evangelho, seguido pelo padre. Embora esta ordem possa parecer aleatória, é por desígnio.

A cruz processional conduz a procissão, proclamando o Cristo crucificado como motivo de reunião. As velas, às vezes feitas de cera de abelha e pavios em chamas, significam Cristo como a luz do mundo; a cera e a chama também simbolizam a natureza dual da existência de Cristo, tanto humana como divina. O diácono portador dos Evangelhos representa tanto as Palavras de Cristo como o Verbo feito carne em Cristo. Finalmente, o próprio Cristo é representado no sacerdote, que age na pessoa de Cristo enquanto celebra a Sagrada Liturgia.

(Foto de Daniel Petty/Denver Catholic)

Como a precessão percorre o Corpo de Cristo nos fiéis reunidos e chega ao altar, eles param para se curvar. Então, o diácono e o sacerdote beijam ambos o altar como uma expressão de veneração pelo santo sacrifício que está prestes a acontecer ali. O próprio altar representa Cristo, “a pedra que os edificadores rejeitaram e que se torna a Pedra da Esquina” (Salmo 118). Se o incenso é usado, destina-se a simbolizar as orações e as aflições de todos os fiéis reunidos levantando-se como fumaça ao nosso Pai do Céu (Salmo 141,2 e Apocalipse 8,4).

Sinal da Cruz

Cada Missa começa da mesma maneira: o sacerdote diz as palavras: “Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo…”, e nós nos marcamos com o Sinal da Cruz. O Sinal da Cruz é uma forma de reconhecer nossa razão de estar na Missa em primeiro lugar: adorar e agradecer ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Mais importante, porém, é uma marca da nossa pertença ao Senhor.

O Sinal da Cruz remonta ao primeiro século do cristianismo. Marcar-nos com o Sinal da Cruz no início da Missa é também uma forma de nos lembrarmos que a Missa é, antes de mais nada, uma oração. De uma maneira muito real e bonita, ao marcarmo-nos, estamos a unir as nossas orações com as dos primeiros cristãos, assim como com as de milhões de outros cristãos de todo o mundo que celebram a Missa exactamente ao mesmo tempo.

Ao seguir o sinal, o sacerdote faz eco às palavras de São Paulo, escritas no segundo livro de Coríntios: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, e o Amor de Deus, e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.” A saudação mais comum é “O Senhor esteja convosco”. Ao responder com as palavras: “E com o vosso espírito”, reconhecemos o dom do espírito que o sacerdote recebeu na sua ordenação.

Ato Penitencial

É um princípio crítico da fé cristã reconhecer a própria pecaminosidade e imperfeição. É precisamente por isso que Cristo veio; para reconciliar a humanidade com o Deus que a criou. Na Missa, este reconhecimento vem mais predominantemente durante o Acto Penitencial. Como o padre nos implora que “chamemos à mente os nossos pecados para nos prepararmos para celebrar os mistérios sagrados”, é-nos pedido que tenhamos uma disposição penitencial e um coração purificado antes de nos engajarmos na Sagrada Liturgia.

O padre conduz então a congregação numa breve declaração, chamada de Confiteor em latim, quando começa: “Confesso, a Deus Todo-Poderoso, e a vós, meus irmãos e irmãs, que pequei muito…”. Ao fazer eco destas palavras, os fiéis estão declarando sua própria pecaminosidade e pedindo a misericórdia de Deus. Ao bater no peito três vezes enquanto dizemos as palavras “por minha culpa, por minha culpa, por minha mais grave culpa”, imitamos um antigo símbolo de contrição, descrito na Sagrada Escritura como o “bater do peito” em várias ocasiões.

Segundo esta declaração, os fiéis às vezes recitam o Kyrie Eleison, que é grego para “Senhor, tem misericórdia”. Em vez de implorar pela misericórdia de Deus, estas palavras devem ser abordadas como uma oração reverente ao Senhor em ação de graças por sua misericórdia e graça. Embora não o mereçamos, reconhecemos o seu infinito amor por nós ao responder às palavras do sacerdote ou diácono: “Senhor, tem misericórdia”. Cristo, tem piedade”. Através do ato penitencial, podemos assim participar da celebração eucarística com um coração puro; deve-se notar, porém, que se se está conscientemente em estado de pecado mortal na Missa, o sacramento da reconciliação é necessário para receber a Eucaristia.

Glória

Depois do Kyrie Eleison, os fiéis levantam a sua voz na Glória. A Glória é uma das partes mais antigas e mais antigas da liturgia, que remonta aos anos 100. As palavras de abertura da Glória, “Glória a Deus nas alturas, e na terra, paz aos homens de boa vontade…” ecoam as palavras dos anjos aos pastores na noite em que Jesus nasceu.

De uma forma muito real, ao cantarmos a Glória, estamos unindo nossas vozes com as dos anjos do céu num coro triunfante de louvor ao Senhor. É um refrão que transcende os tempos e que traz consigo as realidades espirituais e metafísicas que chocam com as terrenas na Santa Missa. É um cântico que foi, é e será cantado por toda a eternidade.

Collect

Finalmente, antes de entrar na Liturgia da Palavra, o sacerdote conduz a congregação em uma oração chamada “Collect”. Esta oração pretende “recolher” as orações dos fiéis e uni-los aos mistérios sagrados que ocorrem durante a Missa. Como diz a Instrução Geral do Missal Romano: “O Sacerdote pronuncia a oração normalmente chamada ‘Recolher’ e através da qual o carácter da celebração encontra expressão”

Com as nossas almas agora limpas, as nossas mentes agora quietas e os nossos corações agora purificados e abertos ao Senhor, estamos prontos a participar na Santa Missa e a receber Jesus na Eucaristia.

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